HISTÓRIA DO RASTEJO OBSTINADO NO MARUMBI VENCE PREMIO LITERARIO NACIONAL NA WEB!
HISTÓRIA DO RASTEJO OBSTINADO NO MARUMBI VENCE PREMIO LITERARIO NACIONAL NA WEB!
Promovido pela empresa EQUINOX Artigos Esportivos, do Rio de Janeiro, o Concurso "O Maior Perrengue da sua VIDA" nos trouxe muito orgulho e satisfação ao recebemos, em casa, os bons Prêmios oferecidos pelo patrocinador e certamente serão aproveitados em Novas Aventuras.
A EQUINOX é uma das poucas empresas nacionais, fabricantes de equipamentos para Montanhismo e Escalada do Brasil, que resistiram ao tempo. Nossos comprimentos também ao seu Fundador Montanhista Carioca Marcelo Ramos.
O CONCURSO
O RESULTADO
OS PREMIOS
A HISTÓRIA
O MAIOR PERRENGUE DA MINHA VIDA
(PELO MENOS UM DOS MAIORES)
Estávamos em meados de 1975, eu e meu
amigo Novak resolvemos fugir dos nossos Pais para acampar na Serra do Mar,
especificamente no Pico do Marumby. Como autênticos Farofeiros estávamos bem
equipados, nossas mochilas do exército de lona, cobertores para fora, faca na
cintura, panelas penduradas e também uma big lona de caminhão que o tio do meu
amigo havia emprestado eram nossos apetrechos, pensamos: - Pronto agora é só
descer do trem e subir a Montanha.
O
sonho de escalar o Marumbi acabou logo nos primeiros metros da trilha, tudo liso, íngreme
e com muito mato, mesmo assim persistimos até o momento que resolvemos
“levantar Acampamento”. Acabávamos de sucumbir no vara mato para o topo do
Facãozinho, recuamos e resolvemos armar nosso acampamento no pé daquela encosta
para tentarmos no outro dia, sem termos que carregar aquela amaldiçoada lona
encerada.
“Acampamento” armado, fogo nas panelas e pronto, começou a chover muito,
nós nunca vimos tanta chuva, com direito à raio também. Uma enorme poça d’agua
nos rodeou de madrugada e ficamos encharcados, sem recursos resolvemos voltar
para a estação que estava em algum lugar no escuro lá embaixo. Embrulha a lona,
recolhe as coisas, pega a baita lanterna e assim rastejamos para a estação de
trem do Marumby.
Passamos
uma noite de cão, molhados e com frio acabamos dormindo nos bancos que tinham
por lá. Amanheceu com Sol e a vista maravilhosa do Conjunto Marumby à nossa
frente era imponente e desafiadora ao nosso desejo de estar lá em cima e olhar
a paisagem, éramos apenas dois meninos de 12 anos e sequer sabíamos que existia
Montanhismo ou escalada, nossa vontade era só a de subir, subir...(“...as
Montanhas Escarpadas, Habitadas pelas Fadas” – Hino do Marumby).
No
Domingo, acordei elétrico, pronto para mexer corpo e ir fazer alguma coisa mas
meu amigo resolveu que precisava estudar e iria ficar na Estação, -Tudo bem eu
disse, fica ai que eu vou dar umas voltas...E lá fui eu explorar o Marumby, nem
fui muito longe, segui pelos trilhos em direção do Veú de Noiva e já na
primeira Ponte, a do Rio Taquaral, resolvi descer e fui descendo, descendo pelo
leito daquelas belas águas, até que me deparei com uma parede de pedra cheia de
ferros cravados nela, eram grandes e na minha visão formavam uma escada
vertical, pensei comigo: - Vou subir...mas ao mesmo tempo vi que era alto e
desisti da ideia, o melhor seria descer mais o rio.
Ledo engano, na primeira rampa de pedra logo após o local chamado
“Cemitério dos Grampos” (Agora eu sei), haviam alguns troncos caídos e ao pisar
num deles veio tudo abaixo como uma avalanche do material que a chuva havia
lavado na noite anterior, de sobressalto consegui desviar o corpo mas não minha
perna. Foi uma dor terrível e mais terrível ainda foi poder ver meus ossos da
perna para fora do corpo, chorei como criança, que aliás eu era.
Gritei desesperadamente pelo pedido de socorro, mas o barulho das águas
e a grande distância até onde as pessoas pudessem me ouvir me fizeram desistir
depois de 1 hora. Pensei comigo naquele momento de desespero, - Será que vão me
procurar? – Mas onde vão me procurar se ninguém sabe onde estou? Naquela época
o Matumby era pouco frequentado e o lugar onde eu estava mais ainda. Só me
restou uma solução.
Primeiro tentei me apoiar em paus, tipo muleta mas eles quebraram e a
dor foi aguda, por ultimo resolvi rastejar rio acima, não tinha outra solução
hoje eu sei que o cemitério dos grampos não é longe dos trilhos, mas naquele
dia parecia que nunca iria chegar. No caminho do meu rastejo desesperador por
dentro do rio, uma Cobra que no primeiro momento me deu um susto mas eu estava
numa situação tão angustiante que nem dei bola para ela e continuei a subir e
se não fizesse isso só iriam encontrar meus ossos.
Foram as mais árduas 5 horas da minha vida, mas consegui chegar na beira
do trilho, lá havia um menino a quem eu pedi que chamasse o Pai, depois de
algum tempo ele voltou e me disse: “- O pai num tá...”, para minha felicidade
um homem me viu e veio rápido em minha direção, me carregou até a Estação, lá
ele e outros amigos que pareciam conhecer bem aquela região, providenciaram-me
uma confortável Litorina onde viajei para Curitiba, paparicado pelas Litomoças
e cheio de balas, chocolates, refris, pronto passei do Inferno para o Céu.
Comigo um outro rapaz me levava até o hospital, se encarregando de
avisar meu Pai que por ironia do destino havia sido seu chefe antigamente,
bem, como não poderia de deixar de
agradecer profundamente ao apoio destes dois, literalmente meus heróis a quem
acabei conhecendo e me tornando amigo muito tempo depois.
Aprendi
muitas coisas com esta lambança, aprendi a não entrar na serra sozinho ou sem
que alguém saiba onde foi, aprendi a escolher melhor meus equipamentos, aprendi
a nunca esconder nada dos meus pais, depois disto eles me mandaram fazer um
Curso de Montanhismo ou entrar para o Escotismo, optei pelo segundo porque não
havia acesso público aberto, nem cursos de escalada, somente anos mais tarde
consegui entrar no CPM e fazer um curso Básico. Mas, minha melhor lição foi ter
aprendido o que é COMPANHEIRISMO com pessoas que nem me conheciam.
Obrigado Vita e Farofa.
Abraços,
Julio Nogueira
Geógrafo, Montanhista e Piloto Parapente
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